22/02/2023
Campus Anápolis

Em 20 de fevereiro foi lembrado o Dia Nacional do Combate ás Drogas e ao Alcoolismo, com diversas ações para conscientização a respeito dos danos no organismo gerados pelo consumo de bebidas alcoólicas e drogas. Para falar sobre como esse problema impacta a pessoa dependente e aqueles que estão ao seu redor e ainda informar as possibilidades de tratamento, o professor Jairo Belém Soares Ribeiro Junior, professor de Psiquiatria da UniEVANGÉLICA e médico psiquiatra no Ambulatório da Criança e do Adolescente em Anápolis, concedeu uma entrevista especial, que você confere abaixo.

Entrevista por Ana Lidia de Oliveira Padilha e Felipe Homsi

Uni - Quais são as causas da dependência de drogas e álcool?
Jairo Belém Soares Ribeiro Junior - Uma das causa importantes é a genética. Existe uma pré-disposição genética. Se existe uma história familiar relacionada ao alcoolismo, é preciso ter cuidado. Outras causas são relacionadas a comorbidades psiquiátricas. Por exemplo: um quadro de depressão pode levar ao abuso de medicamentos. Um quadro relacionado ao Transtorno Afetivo Bipolar pode levar ao uso de drogas também e, no futuro, essas pessoa podem sofrer dependência. A esquizofrenia também pode ser uma porta de entrada para o abuso de álcool e drogas.

Uni - Como é o mecanismo da dependência para o dependente?
Jairo Belém Soares Ribeiro Junior - O ser humano nasce livre, nós temos nossa liberdade, de escolha, de desejo. Eu julgo se quero ou não realizar uma tarefa ou adquirir um objeto, possuir alguma coisa. Depois que eu desejo, decido o que fazer para obter aquele objeto, eu começo a agir para obtenção daquele objeto. Eu sou o senhor da minha vontade, eu sou livre. O usuário de drogas que cai na dependência química perde essa condição, ele não é mais o senhor da sua vontade. Ele se torna escravo, ele vive em função do uso daquela substância. Isso é a escravidão na forma mais cruel. É um inimigo íntimo, uma vez que há o comprometimento do cérebro, qeu controla nossas vontades e nossas ações. Quando eu tenho esse inimigo que controla todas as minhas funções, eu perco a minha liberdade, eu vivo em função daquela droga. Os valores que ela aprendeu já não fazem mais sentido.

Uni - Como a família e a sociedade são impactados?
Jairo Belém Soares Ribeiro Junior - Os prejuízos para o indivíduo e sua família são dos mais variados e graves possíveis, desde os conflitos familiares. O indivíduo já não se encaixa no mercado de trabalho, porque a vida dele é ocupada pela droga, pelo ritual de obtenção. Se você já tem toda a sua vida ocupada por um ritual de uso de determinada substância, é complicado conseguir encaixar o trabalho. Esse quadro pode lesar a família, pessoas de quem ele gosta. Cria uma animosidade, em um cenário onde o indivíduo muitas vezes cai na situação marginalização, porque não consegue mais conviver adequadamente com as pessoas. A droga dificulta o convívio com as demais pessoas. Precisamos lembrar que a pessoa perde o controle das suas vontades e começa a ter discussões com os familiares.

Uni - Quais são as consequências neurológicas?
Jairo Belém Soares Ribeiro Junior - A Psiquiatria estuda o comportamento das pessoas. O usuário de droga pode ter destruição do Sistema Nervoso Central ao longo do uso do que chamo de substâncias venenosas. O fígado, cérebro, sistema nervoso periférico são prejudicados e a pessoa dependente possui perda do juízo crítico, da memória e inclusive da inteligência. Não existe dose segura de nenhuma droga dessa, porque ninguém sabe o que pode acontecer com o próprio corpo com aquela substância.

Uni - Como as pessoas ao redor podem identificar e ajudar uma pessoa dependente? Quais são os sinais da dependência?
Jairo Belém Soares Ribeiro Junior - Quem está próximo pode identificar fatores como a diminuição do repertório, a pessoa que fala apenas de um tema. Geralmente o assunto é bebida, álcool e até drogas. A pessoa só toma atitudes se tiver álcool e drogas disponível. Se você passa muitas horas da sua semana envolvido com essas substâncias e com ressaca, já é um problema. Tudo isso gera uma síndrome de abstinência. Um dia sem beber já fica com vontade, além da dor de cabeça, irritabilidade. Com o tempo, "as pessoas que estão em volta percebem. Tem que ser bem claro com o dependente, colocar-se como uma pessoa que quer ajudar, acolher, dar um braço forte, uma mão amiga. Levar a pessoa para o tratamento, abordar o assunto sem preconceito. Ser aquele indivíduo que gosta de estar com aquela pessoa e ajudar o outro a sair daquela situação.


Uni - Como e onde procurar apoio para enfrentar a dependência de drogas e álcool?
Jairo Belém Soares Ribeiro Junior - Nos postos de saúde no município, na
Rede de Atenção Psicossocial Pública e nos chamados CAPES. Existem possibilidades de internação em hospital psiquiátrico. Várias são as portas abertas para o atendimento dessas pessoas. É importante salientar que o usuário muitas vezes não se percebe como dependente e não quer o tratamento. Ele acaba sendo avesso a qualquer abordagem. É importante que essa pessoa tenha ao seu redor indivíduos com senso crítico, que poderão ajudá-lo a sair dessa situação. Existem medicações que podem ser usadas para ajudar o individuo a superar as crises de abstinência, não sentir tanta falta quando estiver no início do abandono. Há um caminho para a reabilitação.

Uni - Deixe uma mensagem para quem quer sair da dependência de álcool e drogas.
Jairo Belém Soares Ribeiro Junior - "O mais importante na vida é viver. Nós somos todos viajantes para o futuro. Estamos viajando na velocidade incrível de um dia por dia. Não não temos como apressar as coisas, temos que ter paciência, temos que ter muita fé em Deus e acreditar que no futuro as coisas vão funcionar, mas agindo exatamente agora, no presente, para poder ajudar aquelas pessoas que estiverem com qualquer problema e também evitar contato com substâncias  que podem nos levar à dependência agora no presente, para que tenhamos um futuro também sem nenhum problema com dependência de álcool e drogas".