Vivemos dias marcados pela pressa, ansiedade, polarização e, nesse contexto, a vivência da gratidão tem se revelado um dos recursos mais poderosos para restaurar vínculos, fortalecer a saúde emocional e reavivar a esperança coletiva. Nesse sentido, vale recordar uma tradição que, embora muito conhecida nos Estados Unidos, também faz parte da história brasileira: o Dia Nacional de Ação de Graças, instituído oficialmente em 1966 e celebrado anualmente em 27 de novembro, mas ainda pouco vivenciado por grande parte da população.
A origem da celebração remonta ao ano de 1621, quando peregrinos puritanos que haviam chegado ao continente norte-americano organizaram um grande banquete para agradecer a Deus pela primeira colheita em Plymouth. Sobreviventes de um inverno rigoroso e ajudados pelos nativos Wampanoag, aqueles colonos reconheceram que a gratidão era mais do que um gesto religioso — era uma forma de fortalecer a comunidade e afirmar que a vida, apesar das adversidades, sempre oferece motivos para agradecer. Séculos depois, em 1863, o presidente Abraham Lincoln oficializou o feriado nacional, declarando que a nação deveria, mesmo em meio à Guerra Civil, voltar-se a Deus em agradecimento pelas bênçãos recebidas.
O Brasil conheceu a tradição por meio do diplomata Joaquim Nabuco, embaixador em Washington no final do século XIX. Impressionado pelo clima de união e reflexão da celebração, Nabuco defendeu que um dia assim poderia fazer bem ao país. Décadas depois, em 1966, o presidente Castelo Branco instituiu o Dia Nacional de Ação de Graças, na quarta quinta-feira de novembro. Embora a data nunca tenha se transformado em feriado nacional e não esteja presente no calendário social de forma ampla, muitas igrejas, escolas e instituições continuam a celebrá-la — e talvez o país ganhe muito se ampliar esse movimento.
A relevância do Dia de Ação de Graças não se limita ao campo religioso. Trata-se de uma celebração com potencial interdenominacional e até mesmo cultural. Igrejas e grupos de diferentes tradições encontram na gratidão um valor comum. Mesmo pessoas sem vínculo com comunidades religiosas reconhecem a importância emocional e social de cultivar agradecimento. Em uma sociedade cada vez mais fragmentada, o simples ato de agradecer pode funcionar como ponte de reconciliação, memória e cuidado coletivo. Enquanto a ansiedade limita, a gratidão expande os horizontes. Ela revela uma alma saudável e plena.
Estudos contemporâneos têm demonstrado que a gratidão promove efeitos concretos na saúde. Pesquisas da psicologia positiva indicam que agradecer regularmente diminui sintomas de ansiedade e depressão, melhora a qualidade do sono, amplia a sensação de propósito e fortalece relacionamentos. A neurociência também aponta que a prática da gratidão ativa áreas cerebrais associadas ao bem-estar e à satisfação. Ou seja: agradecer transforma, dentro e fora das igrejas.
Celebrar o Dia de Ação de Graças é, portanto, mais do que relembrar uma tradição importada. É reconhecer que sociedades fortes, saudáveis e solidárias nascem de pequenos gestos, como reunir a família, partilhar uma refeição, agradecer pelas conquistas e pelas batalhas superadas. Em um Brasil que enfrenta desafios complexos — sociais, econômicos e emocionais — resgatar o espírito de gratidão pode ser um caminho simples e profundo para renovar a esperança, a solidariedade e senso de valor comunitário.
“Em tudo dai graças; porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco” (1 Tessalonicenses 5.18)
Reverendo Heliel Carvalho Capelão Institucional
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