12/12/2011
Campus Anápolis

Atitudes positivas - 12.12.2011

Trote solidário pode contar pontos em avaliação do MEC a partir do próximo ano

A partir de 2012, universidades que promoverem ações contra o trote violento vão receber pontos na avaliação do Ministério da Educação (MEC). A proposta do Ministério Público Federal abrange medidas preventivas e repressivas que coibam a prática de atitudes abusivas. Incentivar a integração dos novos alunos e promover atividades sociais também pode elevar a posição no ranking das instituições de ensino superior. Acatada pela Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior (Conaes), a medida deve passar a valer no início do próximo ano.

Como alternativa à tradicional recepção com tintas coloridas e cortes de cabelo, muitas universidades já estimulam o trote solidário. Em muitos casos, a programação é organizada pelos próprios alunos. Segundo o assessor da Juventude da Universidade de Brasília (UnB), Rafael Moraes, o trote na instituição é organizado pelos veteranos e integra uma série de outras ações de boas-vindas, como palestras e oficinas. "Os trotes antigos sempre foram realizados por alunos, e a Unb entende que promover um trote solidário só tem sentido se partir do empenho deles", diz.

No início de 2011, uma polêmica envolveu a recepção dos calouros do curso de Agronomia da UnB. Na ocasião, 41 alunos levaram banho de tinta, ovos e farinha, andaram de mãos dadas na posição conhecida como elefantinho (fila indiana em que a pessoa tem de passar um de seus braços por entre as pernas e segurar a mão do colega da frente), cantaram o hino do curso e entraram em uma piscina feita com água, legumes e verduras. Além dessas brincadeiras, imagens divulgadas pela própria assessoria da instituição mostravam alunas lambendo linguiça, simulando sexo oral, o que chamou a atenção da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República. O órgão considerou o caso uma discriminação contra a mulher e encaminhou uma representação cobrando explicações da UnB.

O caso rendeu a aplicação de uma medida pedagógica ao agressor, que foi convidado a ministrar seminários sobre o papel da mulher na sociedade. "Acreditamos que a perspectiva educadora, e não a punitiva, é mais eficaz", sublinha Moraes.

Segundo ele, o trote tradicional é condenado pela UnB, que estimulam o trote solidário para acabar com a guerra de tintas e o corte de cabelo no campus. "Mesmo que ainda exista em alguns cursos, esse tipo de comportamento é repreendido pela instituição e vem diminuindo por conta de medidas pedagógicas", diz. Em abril, durante o trote solidário promovido pelo Diretório Cetral dos Estudantes (DCE) da UnB, 300 alunos pintaram o muro e recuperaram a horta de uma escola na periferia de Brasília.

Em casos mais graves, a punição pode ir além da medida pedagógica: em 1998, a PUC-Sorocaca expulsou cinco jovens que atearam fogo ao corpo de Rodrigo Favoretto Peccini durante um trote em Sorocaba. O estudante teve 25% do corpo queimado. Em 2009, dois veteranos do curso de Agronomia da Universidade Estadual de Londrina (UEL) foram suspensos por terem participado e ajudado a organizar uma brincadeira em que calouros deitavam no asfalto enquanto outros andavam por cima deles.

Coibir esse tipo de comportamento e estimular a integração saudável entre "bixos" e veteranos é uma das propostas do trote solidário, promovido por diversas universidades públicas e privadas do País. Na Universidade Federal de Pernambuco, a ideia é aproximar os calouros do ambiente acadêmico. O Diretório Acadêmico do curso de Direito leva os novos alunos para um passeio pelo campus. "É o momento em que eles conhecem aqueles caminhos escondidinhos, as escadas que não ficam à vista... Isso quebra a distância entre faculdade e aluno", diz Camila Laurentino Lopes, estudante do 6º período. "É um momento de integração. Foi quando conheci a maioria dos meus amigos." Durante as ações de boas-vindas, também são realizadas campanhas de doações de livros, roupas e sangue.

Na Unicamp, para tranquilizar os calouros que temem as brincadeiras, alunos dão orientações e apresentam o trote solidário no dia da matrícula. Michelli Civachia, formada em Pedagogia, fazia parte da comissão que organizava as atividades. Hoje, auxilia o grupo que continua na universidade. "Dividimos os quatro dias de trote em atividades que apresentem ao calouro o ambiente que ele vai frequentar pelos próximos anos", explica. "Visitando instituições infantis, por exemplo, também mostramos uma realidade social que talvez ele não conheça".

Relembre casos de trotes violentos no País:

*O primeiro trote fatal no Brasil aconteceu em 1831, quando um estudante da Faculdade de Direito de Olinda foi esfaqueado depois de se recusar a participar do trote promovido pelos veteranos.

* Em 1980, o estudante Carlos Alberto de Souza morreu ao ser espancado por resistir ao ritual do corte de cabelo. O calouro da Universidade de Mogia das Cruzes estava no "trem dos estudantes", que ia da capital ao interior.

* Em 1999, o calouro do curso de Medicina Edison Tsung Chi Hsueh foi encontrado morto no fundo da piscina da associação atlética da USP na manhã seguinte ao churrasco de recepção aos novos alunos. O caso foi arquivado em 2006 por falta de provas.

* Em 2009, Bruno César Ferreira foi parar no hospital depois de entrar em coma alcoólico durante o trote da turma de veterinária da Universidade Anhanguera, em Leme, interior de São Paulo. Ferreira acabou desistindo do curso.

Fonte: Terra - Educação