ArtigoCentro-Oeste: problemas e perspectivas
Itami Campos Os governadores de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Brasília, Estados que compõem a Região Centro-Oeste, tem se reunido para formação de pauta conjunta de reivindicações na questão fiscal. A questão fiscal no Brasil tem sido dificultada pelas históricas desigualdades, sobretudo por distorções no pacto federativo, daí alguns Estados terem caminhado na direção de ofertar vantagens para empresas que almejam implantar suas estruturas em outros territórios que não os das Regiões Sudeste ou Sul. A partir daí, surgem questões como guerra fiscal e coisas do gênero a fim de manter a concentração industrial nos polos dos Estados mais ricos da Federação. Além disso, há problemas do imposto de circulação de mercadoria com benefícios de uns e prejuízos de outros Estados.
Por isso, vejo no empenho dos governadores não somente a possível organização de uma pauta de reivindicações fiscais, mas um trabalho conjunto para que a região se apresente de forma qualificada a nível nacional. O Centro-Oeste, além da fragilidade com que se apresenta regionalmente, não tem sido visto nacionalmente com a importância que deveria ter.
Os governantes estão ampliando o "grupo do centro-oeste", os empresários começam a ser envolvidos, através dos seus organismos de representação, também os secretários de Estado, principalmente das finanças. Além disso, torna-se necessário o envolvimento de outros atores políticos - regionais e nacionais. A região tem apenas 41 deputados federais e 12 senadores, constituindo-se em uma bancada pequena comparativamente às dos Estados de São Paulo, de Minas Gerais e mais ainda se a nordestina for tomada na comparação.
O Centro-Oeste apresenta-se como a 2ª região em extensão territorial (18,8% do Brasil), mas tem pouco mais de 14 milhões de habitantes e uma baixa densidade populacional - 8,7 habitantes por km2. Embora sua população seja considerada urbana, mais de 88,8% dela moram em cidades, sua economia tem nas atividades agropecuárias sua base, destacando-se o agronegócio como principal atividade econômica. A pecuária e a produção agrícola fazem a região se destacar nacionalmente - tem o maior rebanho bovino brasileiro, com aproximadamente 36% da produção nacional, além ser um dos principais produtores de soja, milho, arroz e cana-de-açúcar. Destaque-se que a região tem tido importante papel no crescimento da exportação nacional, principalmente de commodities agrícolas.
Embora esse potencial e o seu crescimento econômico, a região apresenta fragilidades. É baixa sua qualificação profissional que se reflete na pouca incorporação de valor nos seus produtos, especialmente nos de origem agrícola. O processo de industrialização tem se apresentado muito bem, com boa taxa de crescimento. Contudo, ele pouca qualifica a região, uma vez que toda sua tecnologia vem de fora, com quase nenhuma pesquisa e pequena inter-relação do setor produtivo com as instituições de ensino superior, sendo baixo o nível de inovação tecnológica em toda cadeia produtiva regional.
Em razão de tudo isso, torna-se bem vinda e promissora essa articulação política, especialmente partindo dos governadores do Centro-Oeste. Isso, porém, ainda é incipiente. A região tem fraca consciência de si mesma como tal, mesmo os quadros político representativo são pouco articulados e não se percebem ligadas às demandas do Centro-Oeste, os políticos tem quase sempre uma visão paroquial, vivem em torno de seus umbigos. E pior, o governo federal está encravado na região - Brasília faz mesmo parte do Centro-Oeste?
Vejam um exemplo recente. Os pró-reitores de pesquisa e pós-graduação, através do seu fórum regional (Foprop CO) e com apoio das FAPs (Fundações de Apoio à Pesquisa) durante anos trabalharam na construção de uma rede de pesquisa que tinha os biomas regionais (Cerrado e Pantanal) como elementos de articulação - a Rede Centro-Oeste. Ela se apresentava como estímulo e fator de desenvolvimento da pesquisa tecnológica regional. Houve empenho das instituições de ensino superior, principalmente públicas e comunitárias. O MCT & Inovação assumiu a Rede, um evento foi realizado, um edital lançado e nada mais teve andamento.
No meu entender, esse exemplo da rede se insere no contexto do entendimento da região pelo governo, pelo Brasil 'desenvolvido'. Como regiões, Nordeste, Sudeste e Sul estão mais presentes em Brasília e no governo que o Centro-Oeste. Pode ser difícil de entender, mais é assim que se apresenta!
Itami Campos é cientista político e pró-reitor de pós-graduação da UniEVANGÉLICAArtigo publicado na edição do dia 28 de agosto do jornal O Popular
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